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Por Paulo Ferreira

03 horas da manhã no Brasil e 07h na França. 17 horas no horário local da Austrália. Seria o primeiro treino classifcatório da temporada 2013 e um piloto iria estrear no ano com a liderança no grid de largada em Melbourne. Mas, mais uma vez, uma chuva torrencial permitiu apenas a realzação do Qualify 1 e, duas horas mais tarde, o restante da classificação foi adiado para horas antes da corrida em Albert Park.

Horário quase noturno, chuva, carros parados, circuito de rua, pilotos sentados em bancos ou conversando com sua equipe, público em longa espera. Essa combinação pode prejudicar a imagem do esporte pois fica evidente alguns problemas sérios que ou não foram percebidos ou foram ignorados na agenda da Formula One Management (FOM) – leia-se Bernie Ecclestone – e da Federation Internacionale de L’Automobile (FIA).

Ora, todos querem ver um grande espetáculo com ultrapassagens, manobras de equipe, paradas nos boxes e superação. É claro que a chuva é um elemento que catalisa a emoção ao longo das corridas, como ocorreu bastante na temporada passada. Porém é necessário o respeito aos envolvidos com o esporte: pilotos, equipes, imprensa, público presente e da TV/rádio/internet.

O ponto principal é a insistência em adiar horários de corridas como na Austrália e Malásia para ajustar ao horário de transmissão da Europa na busca de audiência e rentabilidade. É certo que o esporte nasce nesse continente, metade da temporada é realizada nos circuitos dele e que a F1, para garantir o seu espaço, não pode invadir o horário de outras modalidades como futebol.

Porém, não se pode alterar os horários das corridas fora do palco europeu sem considerar outros elementos como estrutura dos autódromos, clima na região e histórico das etapas. E os administradores da F1 sabem disso. Se querem exigir que uma prova mais próxima do pôr-do-sol, devem orientar para que o circuito ofereça as condições necessárias para qualquer tipo de situação que possa ocorrer ao longo do final de semana.

A noite se aproximando, chuva forte e falta de iluminação/escoamento atrasam e inviabilizam treinos e corridas. Em 2009, a corrida de Sepang, na Malásia foi paralisada na metade devido ao mesmo problema e encerrada horas depois. No mesmo ano, o treino classifcatório para o GP do Brasil durou horas, mas ainda aconteceu porque, aqui, a sessão começa consideravelmente cedo. Em 2010, a classificação foi realizada no dia da corrida do GP do Japão pelos mesmos motivos.

Se por um lado, se tem a justificativa de adequar os horários para melhor transmissão mundial, por outro temos a segurança dos pilotos, o próprio espetáculo e o público. Quanto pior fica o estado da pista, mais perigoso para os pilotos ela se torna. Assim, eles não podem entrar no circuito e andar a altas velocidades. Em consequência, o show é atrasado ou adiado. Por fim, o público presente, ou aquele que acorda cedo ou nem dorme sai prejudicado e frustrado por não poder ver aquilo que desejava.

Aí se encontra um problema grave: essa situação intermitente pode prejudicar a presença de público, a audiência dos fãs antigos e novos. Em outras palavras: a rentabilidade de um esporte caro pode cair. É claro que não a pontos problemáticos que possam obrigar a modalidade a fechar as portas, mas o prejuízo – em tempos de crise econômica, principalmente na Europa, não é algo que deva ser permitido.

Pelo contrário, se a FIA e a FOM querem manter a rentabilidade e, cada vez mais, internacionalizar o esporte, pode sim ajustar os horários. Porém não podem ficar só na ameça de, se as exigências não forem cumpridas, trocar aquele autódromo por outro naquele país ou em outro. Deve sim, solicitar as condições necessárias para que o fim de semana não seja prejudicado em todos os aspectos, desde o respeito ao público, rentabilidade e principalmente dentro das pistas.